Por décadas, a saúde mental tem sido uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública no mundo. Subvalorizado e incompreendido, o campo recebe uma ínfima parte da atenção e dos recursos necessários. O resultado é que, para muitas pessoas, alcançar e manter uma boa saúde mental é um desafio.
A avaliação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que lança um novo relatório sobre o tema nesta quinta-feira (16). No documento, a OMS alerta que, apesar da importância da saúde mental para a saúde e bem-estar, muitos ainda não recebem o apoio necessário.
Em 2019, estima-se que uma em cada oito pessoas em todo o mundo estava vivendo com um transtorno mental. Ao mesmo tempo, os serviços e financiamentos disponíveis para a área permanecem escassos e ficam muito abaixo do necessário, especialmente nos países de baixa e de média rendas.
O relatório aponta que, de maneira geral, as condições de saúde mental são generalizadas ou incompreendidas, o que leva a uma subnotificação de transtornos e dificuldades para o acesso ao tratamento adequado.
Importância da saúde mental
Parte inerente e vital do nosso bem-estar geral, a saúde mental e afeta nossas vidas de várias maneiras. Ela nos permite funcionar e prosperar como indivíduos, além de ajudar a lidar com o estresse e adaptações a mudanças.
Uma saúde mental de qualidade é essencial para a construção de relacionamentos saudáveis, além de nos permitir a aprender bem e trabalhar de forma produtiva.
A OMS alerta que sistemas sociais e de saúde estão mal equipados para ajudar pessoas que vivenciam crises de saúde mental.
Mesmo antes da pandemia de Covid-19, que afetou a saúde mental de tantos, estimava-se que cerca de um bilhão de pessoas tinham um transtorno mental. Apenas uma pequena fração dessas pessoas têm acesso à cuidados eficazes, acessíveis e de qualidade.
Estigma, discriminação e violações de direitos humanos contra pessoas com problemas de saúde mental são comuns em comunidades e sistemas de atendimento em todos os lugares, segundo o relatório.
Em todos os países, são os mais pobres e desfavorecidos da sociedade que correm maior risco de problemas de saúde mental. Estes também são os menos propensos a receber serviços adequados.
Cenário global
Antes da pandemia, em 2019, estimava-se que 970 milhões de pessoas no mundo viviam com um transtorno mental, 82% das quais em países de baixa e média renda.
De acordo com o relatório, entre 2000 e 2019, estima-se que mais 25% de pessoas viviam com transtornos mentais, mas como a população mundial cresceu aproximadamente na mesma taxa, a prevalência de transtornos mentais permaneceu estável, em torno de 13%.
Além disso, de acordo com várias estimativas, 283 milhões de pessoas tiveram transtornos por uso de álcool em 2016; 36 milhões tiveram transtornos por uso de drogas em 2019; 55 milhões tiveram demência em 2019 e outros 50 milhões tiveram epilepsia em 2015.
Em muitos países, os sistemas de saúde mental são responsáveis pelo cuidado de pessoas com essas condições.
De acordo com os dados revelados pela OMS, a prevalência de transtornos mentais varia com o sexo e a idade. Tanto em homens quanto em mulheres, os transtornos de ansiedade e os transtornos depressivos são os dois mais comuns.
Os transtornos de ansiedade tornam-se prevalentes em uma idade mais precoce do que os depressivos, que são raros antes dos dez anos de idade. Eles continuam a se tornar mais comuns na vida adulta, com estimativas mais altas em pessoas entre 50 e 69 anos.
Entre os adultos, os transtornos depressivos são os mais prevalentes de todos os transtornos mentais. Em 2019, 301 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com transtornos de ansiedade, e 280 milhões viviam com transtornos depressivos (incluindo transtorno depressivo maior e distimia).
Impactos da pandemia
Antes da pandemia, cerca de 193 milhões de pessoas tinham transtorno depressivo maior e 298 milhões de pessoas tiveram transtornos de ansiedade em 2020.
Após o ajuste para a pandemia, as estimativas iniciais mostram um salto para 246 milhões para transtorno depressivo maior e 374 milhões para transtornos de ansiedade.
A esquizofrenia, que ocorre em 24 milhões de pessoas e em aproximadamente 1 em cada 200 adultos (com 20 anos ou mais), é a principal preocupação dos serviços de saúde mental em todos os países. Em seus estados agudos, é a mais prejudicial de todas as condições de saúde.
O transtorno bipolar, outra preocupação importante dos serviços de saúde mental em todo o mundo, afetou 40 milhões de pessoas e aproximadamente 1 em cada 150 adultos em todo o mundo em 2019. Ambos os distúrbios afetam principalmente as populações em idade ativa.
Crianças e jovens
Cerca de 8% das crianças (de 5 a 9 anos) e 14% dos adolescentes do mundo (de 10 a 19 anos) vivem com um transtorno mental.
Um estudo nacional nos Estados Unidos revelou que metade dos transtornos mentais presentes na idade adulta se desenvolveram aos 14 anos; três quartos apareceram aos 24 anos.
Os transtornos idiopáticos do desenvolvimento, que causam deficiência no desenvolvimento, são o tipo mais comum de transtorno mental em crianças pequenas, afetando 1 em cada 50 crianças com menos de cinco anos.
O segundo transtorno mental mais prevalente em crianças pequenas é o transtorno do espectro do autismo (outro transtorno do desenvolvimento), que afeta 1 em cada 200 crianças menores de cinco anos. Ambos os distúrbios tornam-se gradualmente menos prevalentes com a idade, pois muitas pessoas com distúrbios do desenvolvimento morrem jovens.
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e os transtornos de conduta são particularmente comuns na adolescência, especialmente entre os meninos mais novos (4,6% e 4,5%, respectivamente, em meninos de 10 a 14 anos de idade).
A ansiedade é o transtorno mental mais prevalente entre os adolescentes mais velhos (4,6%) e ainda mais entre as meninas adolescentes (5,5%). Transtornos ansiosos e depressivos nessa idade podem estar associados ao bullying.
Os transtornos alimentares ocorrem principalmente entre os jovens e, dentro desse grupo, são mais comuns entre as mulheres (por exemplo, 0,6% em mulheres de 20 a 24 anos em comparação com 0,3% em homens na mesma faixa etária).
Transformação
A OMS defende que uma transformação mundial em direção à uma melhor saúde mental é possível. Além de reduzir o sofrimento e trazer melhorias em saúde pública, as mudanças poderão significar maior proteção dos direitos humanos e melhores resultados sociais e econômicos.
O plano de ação abrangente de saúde mental da OMS (2013–2030) incentiva que os países invistam na área a partir de quatro objetivos principais:
- Liderança e governança eficazes mais fortes
- Cuidados comunitários abrangentes, integrados e responsivos
- Estratégias de promoção e prevenção
- Sistemas de informação mais fortes, evidências e pesquisa
“A visão é um mundo onde a saúde mental seja valorizada, promovida e protegida. É um mundo onde as condições de saúde mental são prevenidas e onde todos podem exercer toda a sua gama de direitos humanos e ter acesso a cuidados de saúde e sociais de alta qualidade, oportunos e culturalmente apropriados de que precisam e merecem”, diz o relatório.
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