Saúde mental nos dias atuais
O que pensar da saúde mental nos dias atuais? O que mudou? Como saber se preciso de ajuda? São tantos questionamentos quando se pensa no termo “Saúde Mental”, mas acredito que devemos começar de um ponto bastante significativo que é compreender o contexto no qual estamos inseridos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Saúde Mental é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. Então, quando trazemos para o contexto atual podemos pensar que a pandemia trouxe grandes mudanças sociais, não deixando de afetar valores pessoais e humanos, bem como intensificou emoções de tristeza, raiva, relacionadas com sintomas de ansiedade, fobias e depressão. Mas, como o ser humano atualmente, após vivenciar tantas mudanças sociais, culturais e também políticas pode se reequilibrar e viver com mais bem-estar?
Vamos refletir agora…
O fluir das emoções
“Quando agente é criança, é fácil vibrar de alegria, gritar de raiva ou pedir que a mãe da gente faça um bolo de chocolate bem gostoso. Mas, conforme vamos crescendo, vamos nos esquecendo dessas coisas, ficando sérios demais e criando um monte de regras sobre como devemos ser e agir”. Patrícia Gebrim, livro: Palavra de Criança.
Muito significativo este trecho do livro de Patrícia Gebrim. Lembra de que todos nós um dia fomos crianças, onde a espontaneidade e as emoções fluíam mais. Mesmo não tendo o desenvolvimento emocional de um adulto, a criança se permite sentir e expressar, aprendendo aos poucos em seu contexto e significando tudo para ela.
Penso ser relevante uma reflexão sobre como estão as nossas emoções. O que sentimos atualmente? Tristeza, raiva, medo? Angústia? Enfim… O que cada emoção significa em nossa existência? Ao pensarmos em saúde mental não podemos nos esquecer deste desabrochar natural das emoções, do “deixar vir”, mas sem perder a consciência de quem somos e do que nos cerca. O adulto por ter mais desenvolvimento cognitivo e emocional que a criança pode se adaptar criativamente a seu meio, sem se perder do que sente e de como sente.
Relações interpessoais
Pensar o ser humano é pensar em um ser de relação. Segundo Perls, 2002, p.110: “Todo contato, seja ele hostil ou amigável, ampliará nossas esferas, integrará nossa personalidade e, por assimilação, contribuirá para nossas capacidades, desde que não esteja repleto de perigo insuperável e haja uma possibilidade de dominá-lo”. Cabe refletir sobre a importância da frustração para nosso crescimento também, tendo em vista que a partir dela podemos mobilizar recursos pessoais até então desconhecidos e nos desenvolver. Porém, contatos tóxicos não nos fazem bem e devemos estar atentos à nossa possibilidade de lidar com eles de forma que não nos prejudiquem emocionalmente.
Para Bonder, 2001, p159: “Quem dispõe muito de si, não apenas dos paladares adocicados, mas quem faz uso das fantásticas especiarias da vida, mesmo do amargo, esse desenvolve um senso de recurso e tem tudo. Apropriar-se e responsabilizar-se pela vida é o que nos disponibiliza o recurso de todos os recursos, que é a fé na existência de recursos”. Assim, um processo de autoconhecimento é de suma importância para que nos desenvolvamos e conheçamos nossas potencialidades e limitações.
Ao cultivar também relações saudáveis e contatos de qualidade, o ser humano amplia sua rede de apoio e pode a partir daí crescer emocionalmente e lidar de maneira mais fluida com suas dificuldades. Cabe lembrar que num contexto de isolamento muita coisa mudou, inclusive a forma de se relacionar, o que pode ser positivo se pensarmos numa ampliação de nossa capacidade criativa de lidar com o novo. Todavia, é de suma importância também revisitar as emoções que mais sentimos nos momentos de pandemia, para que a partir daí possamos nos conhecer mais e aprimorar nossa capacidade de lidar com a dor, o medo e a angústia, dentre outros. A saúde mental também envolve o reconhecimento de nossas potencialidades e aceitação de nossas limitações.
Aprofundar o autoconhecimento
Conhecer a si mesmo, com mais profundidade, é de suma importância quando se pensa em saúde mental. Quando nos conectamos com nossa história, com nossas emoções, pensamentos, crenças e comportamentos que adotamos numa postura de compreender como tudo se desenvolveu, fica mais fácil pensar em mudanças saudáveis. Como mudar se nem ao menos me conheço com profundidade? Identificar o sentido de nossas experiências e ressignificá-las é algo que nos traz a sensação de pertencimento e da possibilidade de um novo amanhã com mais equilíbrio e consciência de quem somos.
Muitas dicas podem ser dadas para que possamos estimular hábitos saudáveis, como: a prática de exercícios, de meditação, o cultivo de relações saudáveis, fazer psicoterapia, dentre outros. Tudo isso é muito válido, mas quero lembrar de que o autoconhecimento e uma vida autêntica são muitas vezes invalidados na sociedade em que vivemos. Lembrar também do quanto é importante “ser o que se é” e viver uma vida de sentido e mais realizada consigo mesmo.
Vale destacar aqui a fala de Perls (1977 a, p.52-3), onde ele diz:
“(…) todo indivíduo, toda planta, todo animal tem apenas um objetivo inato: realizar-se naquilo que é. Uma rosa é uma rosa. Uma rosa não pretende ser como canguru (…) Na natureza, com exceção do ser humano, a constituição, a sanidade, o crescimento, o potencial, são todos alguma coisa unificada”.
Benefícios da Psicoterapia na Abordagem Gestáltica
Segundo Perls (1977 a, p.50) “o objetivo da terapia é fazer com que o paciente não dependa dos outros e descubra desde o primeiro momento que ele pode fazer muito mais do que ele acha que pode”.
A psicoterapia na Abordagem Gestáltica é uma psicoterapia que trabalha com o aqui-agora, mas não deixando de olhar o passado e o futuro também com o significado que eles têm no momento presente da pessoa. Através deste processo, o indivíduo amplia o autoconhecimento, entra em contato com recursos que possui e com novos que podem surgir, através de técnicas e experimentos voltados ao sensório, cognitivo, motor ou emocional. Sua demanda é respeitada e acolhida numa relação autêntica com o terapeuta. O cliente tem a oportunidade de se experimentar em vários momentos, trabalhando suas dificuldades e ampliando sua consciência de sua história, ressignificando-a.
O indivíduo entra em contato com suas potencialidades e limitações e pode por si mesmo adotar comportamentos mais saudáveis e atualizados no momento presente, respeitando seu ritmo e sendo ajudado pelo terapeuta que é um facilitador do seu processo de autoconhecimento e autoconsciência.
Referências
- Gestalt-terapia: conceitos fundamentais/organização Lilian Meyer Frazão e Karina Fukumitsu. São Paulo: Summus, 2014. (Gestalt-terapia: fundamentos e práticas;2).
- Palavra de criança: coisas que você pode aprender com sua criança interior / Patrícia Gebrim – 2.ed.- São Paulo: Editora Pensamento Cultrix, 2021.