A varíola dos macacos é, na maioria das vezes, uma doença autolimitada, com sinais e sintomas que duram de duas a quatro semanas. O período de incubação, fase em que a pessoa não apresenta sintomas, dura em média de 6 a 13 dias, mas pode chegar a 21 dias.
Na maior parte dos casos, a infecção não requer internação e o tratamento oferecido é de suporte, com o objetivo de aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações. Um dos remédios usados para tratamento da doença no mundo, o antiviral tecovirimat ainda não está disponível no Brasil.
Os medicamentos que podem ser utilizados em caso de dor ou febre são dipirona e paracetamol. Para casos mais severos, o uso de opioides, sob prescrição médica, pode ser necessário.
O médico infectologista Estevão Portela, vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), afirma que a dor é um dos fatores que pode levar um paciente com varíola dos macacos a precisar de internação.
As lesões, principalmente as genitais e anais, podem ser muito dolorosas e limitar a atividade da pessoa. Os diversos centros de internação criam protocolos para o manejo dessa dor que eventualmente pode ser, dependendo do grau de intensidade, um manejo ambulatorial com analgésicos por via oral, mas eventualmente o ajuste desse tratamento analgésico exige a internação para um tratamento mais intenso com medicações controladas”, explica.
Até o momento, o Brasil registra 2.458 casos confirmados de varíola dos macacos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Os casos foram registrados nos estados de São Paulo (1.748), Rio de Janeiro (278), Minas Gerais (102), Distrito Federal (92), Paraná (52), Goiás (53), Bahia (25), Ceará (9), Rio Grande do Norte (8), Espírito Santo (7), Pernambuco (13), Tocantins (1), Acre (1), Amazonas (5), Pará (1), Paraíba (1), Piauí (1), Rio Grande do Sul (29), Mato Grosso (2), Mato Grosso do Sul (8), e Santa Catarina (22).
Cuidados recomendados
Crianças, gestantes e pessoas com deficiências imunológicas podem apresentar risco de sintomas mais graves.
O Ministério da Saúde recomenda que os cuidados voltados para a população de risco sem sinais de gravidade, incluindo o local de isolamento desta população, devem ser analisados caso a caso.
Em relação aos pacientes com bom estado geral, que não fazem parte da população de risco, recomenda-se que seja prescrito tratamento sintomático. Além disso, o paciente deve permanecer isolado, preferencialmente em ambiente domiciliar, até a liberação dos resultados laboratoriais. Nesse momento, o paciente deve passar por nova avaliação médica e receber orientações quanto ao tratamento.
As lesões na pele devem ser cobertas o máximo possível, com o uso de camisas de mangas compridas e calças, também para minimizar o risco de contato com outras pessoas. As roupas devem ser trocadas se ficarem úmidas e higienizadas de maneira separada. Para evitar o risco de contaminação de outras partes do próprio corpo, o paciente deve evitar tocar nas feridas e não levar as mãos à boca e aos olhos, por exemplo.
O médico Demetrius Montenegro, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), orienta que as bolhas, características da doença, não devem ser estouradas. A higienização da pele e das lesões pode ser realizada com água e sabão.
“O paciente deve evitar o manuseio das lesões. Se tocar a lesão, lave as mãos com água e sabão e utilize o álcool em gel para evitar a contaminação de outras partes do próprio corpo”, afirma.
O especialista recomenda que os pacientes evitem a automedicação e utilizem somente os fármacos prescritos pelo profissional de saúde.
“A automedicação tem que ser evitada. O paciente recebe recomendações de analgésicos, para o caso de dor, então é importante seguir as orientações nesse sentido”, alerta.
Riscos de complicações
As feridas na pele provocadas pela varíola dos macacos e por outras doenças trazem o risco de infecções secundárias causadas principalmente por bactérias. As fissuras presentes nas lesões servem de porta de entrada de microrganismos que podem ser nocivos para a saúde.
“Essas lesões acabam gerando áreas expostas na pele e, eventualmente, locais de difícil manejo do ponto de vista de assepsia. Essas lesões podem acabar gerando uma infecção bacteriana secundária. Isso pode necessitar de tratamento antibiótico que, às vezes, precisa ser realizado por via endovenosa em uma unidade hospitalar”, afirma Estevão.
Especialistas recomendam que os pacientes devem buscar atendimento médico diante de sinais de complicação do quadro de saúde, que incluem sintomas como dor e febre persistentes ou o comprometimento da capacidade de engolir, por exemplo.
De acordo com o Ministério da Saúde, são considerados critérios clínicos de gravidade o número elevado de lesões (sendo de 100 a 250 um caso grave e mais de 250 muito grave), insuficiência respiratória, sepse (infecção generalizada), confusão mental, aumento do fígado (hepatomegalia), aumento dos gânglios do pescoço com dificuldade para engolir e desidratação.
Quando voltar ao médico
“Os pacientes devem retornar ao médico quando houver dor que impossibilita a alimentação, quando lesões acometem orofaringe, dor de difícil controle em casa, e sinais sistêmicos importantes como febre persistente e dor muscular ou outros sintomas associados, que podem ser complicações, como dor de cabeça, secreção purulenta nas lesões, vermelhidão e calor local muito intensos, palpitações e dor no peito”, afirma o médico dermatologista Thales Bretas.
No surto atual da doença, pacientes têm apresentado lesões que afetam áreas sensíveis do corpo, como a região genital e anal e a estrutura bucal. Quando as feridas aumentam em número e em tamanho, elas podem criar grandes lesões que provocam dor intensa e podem comprometer a realização de atividades cotidianas, incluindo a alimentação.
A médica infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, explica que além dos impactos cutâneos e nutricionais, os pacientes podem apresentar complicações associadas aos olhos, como infecção secundária e redução da capacidade visual, e pulmonares, com quadros de insuficiência respiratória.
“Orientamos que o paciente corte bem as unhas e higienize sempre as mãos. Se as lesões estiverem coçando muito, podemos orientar um medicamento anti-histamínico para diminuir a coceira. Como nas lesões há presença de vírus, a pessoa deve evitar de coçar os olhos, por exemplo. Há casos de lesão oftalmológica através da autoinoculação, ou seja, tirar o vírus da pele ao coçar e levar para os olhos”, diz Rosana.
Tratamento na gravidez
Apesar de a doença transmitida pelo vírus Monkeypox ser considerada autolimitada, que geralmente apresenta cura espontânea, em alguns casos como o de gestantes, pode haver a necessidade de tratamento medicamentoso específico.
Na maioria das vezes, só há indicação de uso de tratamento sintomático para febre e dor. Nos casos que apresentem lesões mais significativas, algumas medicações podem ser consideradas após avaliação médica.
Em geral, as gestantes apresentam quadros leves e autolimitados da doença. Nestes casos, não há indicação de antecipar o parto.
O Ministério da Saúde publicou uma nota técnica com orientações específicas sobre a infecção por gestantes. As recomendações da pasta para gestantes, puérperas e lactantes são:
- Evitar contato com pessoas com sintomas suspeitos
- Usar preservativo em todos os tipos de relações sexuais (oral, vaginal, anal)
- Observar possíveis lesões na região genital do parceiro ou parceira
- Manter uso de máscaras em ambientes com indivíduos que possam estar infectados
- Procurar assistência médica, caso apresentem algum sintoma da doença
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