Muitos profissionais de alto desempenho nos esportes, negócios e artes juram que a intuição funciona. Ela permite que eles tomem decisões, muitas vezes em um
milésimo de segundo, sem pensar em excesso e sem perder oportunidades.
Pense nos jogadores de beisebol. Com o arremesso de bola rápida na liga principal ultrapassando 145 km/h em média, um rebatedor não tem mais de 150 milissegundos, que é literalmente o piscar de olhos, para decidir o próximo movimento. Além disso, a bola é efetivamente invisível para o batedor durante os últimos 10 metros do trajeto e na zona alvo ela surge por apenas 10 milissegundos.
Nunca se esqueça de que essa tarefa também tem que ser feita com quantidade exata de potência e precisão. No entanto, o lançador Aaron Judge, do New York Yankees, quebrou recentemente o recorde da American League, com 62 home runs (quando a bola é rebatida e o rebatedor consegue correr por todas as bases) em uma única temporada.
Claro, há preparação e habilidade envolvidos, mas Aaron Judge dificilmente conseguiria desafiar a física nesse complexo e ultrarrápido conjunto de passos sem usar a
intuição.
Para atletas como Judge, saber quando e como fazer os movimentos certos parece vir naturalmente e, de certa forma, a ciência confirma que é exatamente assim que acontece.
Mas a ciência também mostra que a intuição não é simplesmente um sentido especial presente em pessoas como atletas que quebram recordes, de acordo com um
estudo de 2016. Intuição é algo que todos nós possuímos e que pode nos fortalecer na tomada de decisões cotidiana.
Raízes na neurociência
De acordo com Max Newlon, presidente da BrainCo, uma empresa que desenvolve produtos baseados na tecnologia de interface cérebro-máquina, o cérebro humano possui dois modos de pensamento distintos: analítico e intuitivo.
Muitas vezes, esses dois modos são chamados de pensamento com o lado esquerdo do cérebro e pensamento com o lado direito, respectivamente, porque é aí que os diferentes estilos de pensamento têm lugar, segundo pesquisas.
“Dependendo da tarefa, os diferentes sistemas de pensamento funcionam de forma mais eficaz. O intuitivo, do lado direito do cérebro, se caracteriza por ser mais orientado para a sensação, criatividade e é mais abrangente”, explicou Newlon.
Ele compartilhou o exemplo de alguém que decide comprar uma casa: “Uma pessoa que age intuitivamente sustentará a sua decisão com declarações sobre gostar da
sensação do espaço, imaginando como é viver lá e imaginando que a sua família estendida se sentirá em casa quando vier visitar. Por outro lado, um tomador de decisões analítico vai se concentrar em coisas como a qualidade das escolas, o tempo e a distância de deslocamento para o trabalho e o negócio financeiro como um todo”.
Mas o que acontece com aquelas decisões de negócios que os CEOs precisam tomar de repente ou os movimentos com precisão de segundos dos atletas profissionais?
“A capacidade de tomar decisões rápidas e intuitivas se baseia em criar e cultivar a autoconfiança”, explicou a doutora Dehra Harris, diretora-assistente de pesquisa de
desempenho aplicada para o Toronto Blue Jays.
Desenvolver sua voz interna, Harris observou, é um processo contínuo que requer duas etapas:
- aprender a se ouvir;
- envolver-se num processo regular de reflexão.
Comece com um momento de silêncio e observe as diferentes vozes em sua cabeça, aconselhou Harris, que é ex-professora assistente de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em Saint Louis.
“Geralmente, você ouvirá duas vozes. Uma delas é baseada no medo, associado à velocidade, aos pensamentos em looping, enquanto a outra é mais calma e verdadeira para a sua natureza. A melhor maneira de identificá-las é percebendo como elas fazem você se sentir”, explicou.
Sua voz interior sempre o acalmará, mesmo diante de grandes tarefas, enquanto sua voz baseada no medo vai deixá-lo cada vez mais oprimido”.
Em segundo lugar, a especialista lembra que ouvir sua voz interna não é um sistema sem falhas. Ela sugere uma reflexão semanal sobre os resultados.
“Pode parecer contraintuitivo rever a tomada de decisões intuitiva, mas se alguns dos resultados não forem bem-sucedidos, é necessário haver uma mudança de estratégia. Lembre-se de que a intuição vem de um poço de experiência e conhecimento acumulados”, destacou.
Albert Einstein observou certa vez que “a intuição não é nada além do que o resultado de uma experiência intelectual anterior”. Newlon, da BrainCo, concorda, mas vai mais longe, sugerindo que a intuição não é apenas o resultado do reconhecimento de padrões da acumulação das suas experiências, mas potencialmente “de milênios de evolução”.
Prática traz progressos
Trabalhar ativamente em sua intuição e ter uma prática diária de confiar vai fortalecê-la, mesmo diante do estresse. “O estresse diminui os recursos cerebrais para a tomada de decisões, já que ajuda você a buscar uma habilidade que você já aplicou ativamente e com a qual pode chegar a um resultado mais seguro”, afirmou Harris.
Para pensarmos na capacidade de fortalecer a tomada de decisões intuitiva com a prática, vamos voltar ao jogador de beisebol Aaron Judge. Ele não só venceu o recorde de home runs como também roubou 16 bases na mesma temporada, quebrando seu recorde pessoal. Na verdade, até 9 de agosto, ele tinha atingido a marca de 100% de precisão, com 13 acertos em 13 em tentativas de roubo de base, que é outro feito improvável.
Será que o sucesso de Judge, tanto em home-runs como em roubos de bases, aumentou simultaneamente por acaso? Ou isso aconteceu em parte devido à prática regular e à confiança em sua habilidade de tomar decisões intuitivas precisas, em milissegundos?
Enquanto sua mente analítica pondera isto, considere que há pouca correlação física entre rebater (no home run) e roubar uma base.
Para ver se a prática regular pode melhorar a força e a precisão de suas “batidas” intuitivas, experimente estes três exercícios:
Respire com presença
Como treinadora de corpo e mente para esportes profissionais, tive o privilégio de trabalhar com Judge em sua respiração e de o ajudar a integrar uma prática respiratória no seu regime de treino. Como sua respiração está sempre acontecendo no momento atual, é sua conexão mais forte com o aqui e agora, liberando você de pensamentos do passado ou do futuro.
Num estado de presença, é mais fácil ouvir a sua voz interior. Experimente a prática respiratória 5-7-3 (cinco segundos de inspiração, sete segurando o ar e três expirando) para calar a sua própria mente e assim tentar ouvir melhor a sua intuição.
Pratique meditações com o lado direito do cérebro
Ao invés de tentar manter sua mente em branco durante a meditação, tente concentrar sua atenção em permitir que seu lado direito e imaginativo do cérebro flua sem o julgamento de sua mente analítica. Um bom exercício para isso é pensar numa questão ou escolha e deixar sua imaginação meditativa levá-lo através de um possível resultado positivo.
Se tomar uma decisão é demasiado difícil sem que sua mente analítica interfira, Harris sugere focar em uma música adorada e deixar sua imaginação levá-lo a todas as experiências que a canção evoca para você.
Jogue com ferramentas criativas
Não tenha medo de ser criativo nas suas tentativas de ser mais criativo. Você não precisa ser um artista, escritor ou adivinho para jogar com ferramentas que permitem que você toque seu cérebro direito intuitivo. Dá para fazer desenhos livres, usar cartões de storytelling para estimular a escrita criativa ou cartões de afirmação positiva com uma intenção clara.
“Trabalhar com qualquer prática que o ajude a utilizar ativamente o seu cérebro intuitivo pode ser muito valioso e é até mais quando afastamos a mística e olhamos para a
prática racionalmente”, explicou Newlon.
Agora que você está capacitado com a compreensão e os meios para fortalecer sua intuição, por que não começa a ver para sua voz interna vai levar você?
Nota do editor: Dana Santas, conhecida como Mobility Maker, é uma especialista em treino de força e condicionamento e coach de corpo-mente para esportes profissionais. Ela é autora de “Practical Solutions for Back Pain Relief” (“Soluções práticas para o alívio da dor nas costas”).
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