Síndrome de Peter Pan, você já ouviu esse termo?
A vida adulta pode parecer assustadora ocasionalmente. Incontáveis responsabilidades, contas a pagar, compromissos profissionais, pressões familiares, casamento, estresse… Quando se coloca tudo na balança, os contras parecem superar os “prós”, principalmente quando estamos em um dia ruim.
Entretanto, quando se vive um dia de cada vez, essa avalanche de demandas e obrigações não é, de fato, assustadora. Ainda assim, algumas pessoas possuem dificuldade para administrar os aspectos que compõem a vida adulta e desenvolvem grande aversão a eles.
O que é Síndrome de Peter Pan?
Peter Pan é um personagem notável da infância de milhares de pessoas, conhecido como “o garoto que nunca cresceu”. Ele mora em uma terra encantada com piratas e criaturas mágicas e vive aventuras dia após dia ao lado de garotos que, assim como ele, vivem em uma infância eterna.
Assim como o personagem do conto homônimo do autor britânico James Matthew Barrie, pessoas com essa síndrome têm o desejo de “não crescer”.
Os conceitos por trás dessa condição foram formulados em 1983 pelo psicólogo americano Dan Kiley. Em seu livro “Síndrome de Peter Pan – O Homem que nunca cresce”, ele discorreu acerca de desvios de comportamento identificados em seus pacientes durante anos de atendimento psicológico.
O psicólogo percebeu uma dificuldade em comum entre alguns deles: incapacidade de aceitar as responsabilidades que vêm com a vida adulta. Segundo ele, os homens tendem a sofrer dessa condição mais que as mulheres.
Indivíduos não conseguem se ver como adultos e levar suas obrigações a sério. Assim, eles possuem comportamentos infantilizados e irresponsáveis, como se tivessem “perdido a noção” da realidade.
Eles têm dificuldade para cuidar de suas vidas, por isso, parecem viver em uma perpétua guerra contra o tempo e organização. Quando as coisas dão errado, normalmente jogam a culpa em outros indivíduos ou fatores externos.
Sintomas da Síndrome de Peter Pan
O que de fato caracteriza os comportamentos irresponsáveis dessa síndrome? A princípio, não é muito fácil identificá-los uma vez que podem ser confundidos com aspectos da personalidade da pessoa. Um período de observação é necessário para identificar condutas problemáticas.
O psicólogo Dan Kiley identificou alguns sintomas principais dessa condição, como visto abaixo:
- Insatisfação: o indivíduo pode estar estudando, trabalhando, em um relacionamento ou até mesmo fazendo algo que sempre sonhou, mas não está satisfeita.
- Dificuldade para expressar sentimentos: expressar sentimentos é muito difícil para quem tem essa síndrome devido à timidez, medo ou dificuldade de compreender o que sentem.
- Problemas para se relacionar: em razão de seus comportamentos infantis, formar relacionamentos duradouros é difícil.
- Procrastinação: por levar tudo na brincadeira, o indivíduo tende a procrastinar tarefas e obrigações. Ele demonstra não estar preocupado com prazos ou consequências de não fazer um bom trabalho, mas, quando o tempo encurta, fica ansioso para concluí-las.
- Negação de responsabilidades: a dificuldade de aceitar as responsabilidades da vida adulta leva o indivíduo a jogá-las para outras pessoas.
- Relacionamento complicado com os pais: a falta de maturidade pode tornar o relacionamento com os pais turbulento.
- Falta de interesse pela sexualidade: há uma tendência a não ter interesse por sexo por conta da imaturidade. Quando o indivíduo está em um relacionamento, ele não tem uma conduta responsável acerca de sua vida sexual.
- Adoração pela figura dos pais: como a conexão com a infância é muito forte, o indivíduo costuma admirar muito os pais e ter dificuldade para fazer as coisas sem o aval deles.
- Egocentrismo: o indivíduo tem dificuldade para superar a típica fase egocêntrica da infância. Então, ele acredita saber de tudo e fazer tudo certo, mas, ao mesmo tempo, pode ser inseguro e ter baixa autoestima.
Causas da síndrome
Existem muitos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome de Peter Pan. Uma infância que não foi muito aproveitada pode levar o indivíduo a inconscientemente tentar recuperar o tempo perdido na vida adulta, quando possui controle sobre as suas decisões.
Por outro lado, um período muito feliz da infância pode causar medo de crescer e ter responsabilidades. Essa sensação é mais comum entre pessoas que foram mimadas pelos pais quando crianças. Quando precisam deixar a zona de conforto do seio familiar, ficam assustadas e incertas.
A nostalgia pelo período despreocupado da infância também pode causar um desejo de trazer de volta sensações e elementos de memórias alegres. É normal ter esse sentimento de vez em quando, mas, quando fica excessivo, pode desviar a atenção das responsabilidades do momento presente.
Indivíduos que não receberam orientações úteis nem desenvolveram habilidades importantes para a vida adulta, como marcar uma consulta no médico ou informações sobre imposto de renda, podem ficar inseguros por conta da quantidade de coisas que precisam prestar atenção na vida adulta.
Estudiosos identificaram alguns fatores na sociedade atual, como pressão para ter sucesso na carreira em um curto período, mercado extremamente competitivo e incentivo excessivo ao consumismo, que também são possíveis causas.
Alguns indivíduos têm medo de entrar nesse mundo agitado, por isso, preferem permanecer na condição de crianças sem responsabilidade. Da mesma forma, podem tomar essa decisão ao ver que é muito difícil avançar na carreira. Se não é possível progredir, então optam por regredir.
Tratamento para a Síndrome de Peter Pan
É aconselhado que pessoas nessa condição busquem acompanhamento psicológico para poderem assumir os medos que possuem em relação à vida adulta e superá-los de modo adequado. Junto com o psicólogo, os pacientes podem buscar crescimento pessoal e profissional, bem como amadurecimento emocional.
Na terapia, é possível detectar traumas, conflitos emocionais e outros incômodos que diminuem a qualidade de vida dos pacientes.
Deste modo, o psicólogo e paciente conseguem identificar maneiras de superar a insegurança, dúvida e medo. A pessoa também aprende a lidar com as frustrações e decepções típicos da vida adulta de maneira saudável.
O processo tende a ser gradativo e, por vezes, é dolorido.
Relembrar memórias negativas da infância e/ou adolescência não é agradável, tampouco é perceber que as lembranças calorosas desses períodos não devem permear o presente. Porém, esse é um passo importante do processo de cura. E os pacientes conseguem passar por ele com menos sofrimento durante a terapia.
É importante compreender que o momento presente é o mais importante de sua vida. O que foi ruim ontem não têm influência sobre o que é bom hoje, e o que foi bom ontem pode ser relembrado com carinho hoje, mas não perseguido como um ideal. Afinal, as pessoas mudam com o passar dos anos!
Não é preciso se infantilizar para ter uma vida saudável e feliz. A vida adulta é, de fato, repleta de responsabilidades que podem nos cansar e estressar. Mas também é composta por oportunidades e experiências maravilhosas.
Como ajudar alguém com essa condição
Conviver com alguém que não quer crescer pode ser complicado. Como a pessoa tem dificuldade em assumir a responsabilidade por seus atos e não ouvir conselhos de outros, conflitos podem ser frequentes. Os pais, sobretudo, tendem a entrar em atrito constantemente com filhos com síndrome de Peter Pan.
Conflitos entre cônjuges são igualmente comuns. Como manter um relacionamento afetivo com alguém que parece não querer ouvir quando está errado e se comprometer a fazer a sua parte? Para ambos os lados, é difícil ter uma boa convivência.
Ainda assim, existem algumas atitudes que você pode adotar, paralelas ao tratamento, para ajudar alguém com aversão às responsabilidades da vida adulta.
Não apoie comportamentos impróprios
Primeiramente, quem convive com o indivíduo que não deseja crescer deve cessar quaisquer condutas que incentivam comportamentos infantilizados. Quando a pessoa tiver uma atitude inadequada, explique a ela o porquê e a encoraje a assumir a responsabilidade pelo que fez ou disse. Da mesma forma, parabenize-a por tomar boas decisões.
Incentive a pessoa a fazer coisas de adulto
Incentive a pessoa a tomar as rédeas da sua vida ao introduzir responsabilidades de adulto em sua vida. Ensine-a ou acompanhe-a quando for pagar as suas contas. Compartilhe informações essenciais sobre pagamento de impostos, contratos profissionais, manutenção da casa, entre outros.
Faça isso aos poucos para que ela se acostume com a vida de adulto e perceba que não precisa ter medo.
Reduza as distrações presentes na vida dela
Outra maneira de ajudar é reduzir as distrações em sua vida mesmo que a pessoa com síndrome de Peter Pan não concorde com suas decisões ou fique irritada.
Explique por que você está reduzindo o seu tempo nas redes sociais, jogando vídeo games ou praticando hobbies, listando os benefícios de saber controlar o tempo dedicado a essas atividades. Caso reduzir não faça muita diferença, você também pode optar por remover completamente essas distrações por um certo período.
Recomende a terapia
Recomende que a pessoa faça terapia. Ela pode não responder bem à sua recomendação a princípio, pois pode não ver problema algum em seu modo de agir. Então, não a pressione e espere um pouco para fazer uma nova recomendação.
A Vittude é uma plataforma de terapia online que pode ajudar nesse caso, principalmente por não exigir deslocamento e perturbar a rotina. Então, o indivíduo com Síndrome de Peter Pan pode facilmente conversar com o psicólogo em um ambiente virtual seguro e confortável.
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