O Brasil foi considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um exemplo no combate ao tabagismo. No entanto, apesar das campanhas de conscientização contra o cigarro, uma parcela considerável de brasileiros ainda sofre dos males causados pela nicotina.

Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,5%, sendo 11,7% entre homens e 7,6 % entre mulheres. Os índices representam uma população de mais de 20 milhões. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo.

O combate ao fumo é tema do CNN Sinais Vitais desta semana. A reprise do programa apresentado pelo cardiologista Roberto Kalil vai ao ar neste domingo (4), às 19h30, reforçando o conteúdo diversificado com a marca CNN Soft.

Os custos dos danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde para a economia podem chegar a R$ 125 bilhões de reais. Além disso, mais de 160 mil mortes anuais poderiam ser evitadas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

“O cigarro é um ladrão de vidas”, alerta Jaqueline Scholz, cardiologista e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor. “A principal causa de morte dos fumantes, todo mundo acha que a parte respiratória, mas não, é a cardiovascular. Infarto e acidente vascular cerebral são os grandes matadores”, diz Jaqueline (veja entrevista no vídeo acima).

A especialista é a criadora do Programa de Assistência ao Fumante (PAF), um projeto que une terapia comportamental e medicamentosa que aumenta em três vezes o sucesso no combate ao tabagismo.

“São três coisas que você tem que avaliar nesse paciente: saúde mental, quanto que ele tem de depressão e ansiedade e nem sabe que tem. Isso é uma questão importante, que vai definir se ele vai conseguir ou não parar de fumar e até se ele vai ter vontade de parar de fumar. Segundo, o remédio mais eficaz para tirar aquele desejo incontrolável de fumar. E terceira parte, a técnica comportamental“, explica Jaqueline.

O episódio apresenta a história da publicitária Tálita Sobral, paciente do PAF, que conseguiu parar de fumar graças à técnica. “E o melhor, sem sofrer”, afirma Tálita.

De acordo com os especialistas, novas abordagens da medicina contribuem para reduzir o impacto do tabagismo no país.

“O que mudou e ajudou muito no tratamento do tabagismo, primeiro foi o entendimento que tabagismo é uma doença, deixar de atender o tabagista de uma maneira crítica e moralista. Há 20 ou 30 anos, se culpava o fumante por essa doença. Ele precisa de acolhimento, precisa entender que ele tem uma doença porque a nicotina vai para o cérebro e ela modifica o centro do prazer. E o prazer é uma área fundamental para a vida”, destaca Ciro Kirchenchtein, pneumologista e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

“Muita gente acha mais difícil largar o cigarro do que a heroína”, diz a jornalista e escritora Barbara Gancia, que se livrou do fumo / Reprodução/CNN

Doenças associadas ao fumo

No Rio de Janeiro, a equipe mostra como o acolhimento pode fazer a diferença no enfrentamento ao vício do cigarro. A aposentada Elizabeth do Nascimento sofre com um câncer de língua, um retrato real do que aparece nos alertas nos maços de cigarro. Mesmo com a doença, Elizabeth não consegue parar de fumar.

“Não necessariamente todos os fumantes vão desenvolver neoplasias ou cânceres relacionados ao cigarro. Alguns pacientes fumam e nunca apresentam uma doença relacionada ao tabaco. Mas é com certeza um fator de risco importante. Mais de 80% dos cânceres de pulmão estão relacionados ao cigarro, 70% dos cânceres de bexiga também estão relacionados ao cigarro, quem fuma tem 30 vezes mais chance de desenvolver uma doença relacionada ao cigarro do que não fumante”, explica Gustavo Melo Caboclo, médico e chefe do Centro de Combate ao Tabagismo do Inca.

Os especialistas afirmam que recaídas são comuns na busca pelo abandono do cigarro, mas que esses momentos não devem desestimular os fumantes.

“A recaída pode acontecer, principalmente nos primeiros meses após o abandono do cigarro. Mas também pode acontecer mais tarde, ao longo do processo, dependendo de algum estresse específico, uma questão da sua vida que conduz ao cigarro naquele momento”, afirma Caboclo.

“Muitos estudos mostram que são necessárias, às vezes, mais de quatro tentativas até o paciente conseguir parar de fumar. A recaída é um obstáculo que a gente tem que superar também”, completa.

Riscos do cigarro eletrônico

Com a tecnologia, a batalha de décadas contra o tabagismo encontrou um novo inimigo: o cigarro eletrônico. Apesar da comercialização desse produto estar proibida no Brasil desde 2009, uma pesquisa de 2020, conduzida pelo IPEC, estima que mais de 1 milhão de brasileiros já consumia dispositivos conhecidos como cigarros eletrônicos.

Os especialistas apontam que existe um lobby para liberação do produto. “Eu acho que a grande questão do cigarro eletrônico no mundo é uma febre no Brasil. A gente tem a legislação que proíbe a comercialização, que deve ser mantida. Porque nós temos muito a perder. Você imagina, 19 milhões de fumantes no país, em vez de querer parar de fumar e se livrar do malefício do cigarro, porque realmente a cessação vai proteger a saúde dessas pessoas, eles simplesmente resolverem migrar”, alerta Jaqueline.

Um dos mitos sobre o cigarro eletrônico é que ele não faz mal. O episódio mostra a rotina de um empresário que usa um desses dispositivos de costume – e acha que ainda faz bem.

“Não há forma segura de se fumar. Não há quantidade segura de se fumar. Fumar um cigarro é menos prejudicial do que fumar 20 cigarros. Fumar cigarro eletrônico, narguilé, mascar o tabaco, fumar cigarro com filtro ou sem filtro está levando para o seu corpo de todas as formas uma droga que cria uma dependência, que rouba sua liberdade. Você é obrigado a gastar dinheiro todos os dias com uma coisa que você não precisaria”, diz Kirchenchtein.

“O tabagismo é uma pandemia. Foi declarado pandemia em 1986, pela Assembleia Mundial da Saúde. É um problema que vem gerando mortes no mundo inteiro. Atualmente responde por 8 milhões de mortes anuais. Aqui no Brasil são 162 mil mortes anuais, são mortes altamente evitáveis”, alerta Tânia Cavalcante, do Inca.

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