As tecnologias digitais oferecem inúmeros recursos e possibilidades que podem facilitar o dia a dia. Programas para estudar ou trabalhar, sites de compras e aplicativos para encontrar novos relacionamentos: tudo na palma da mão.

No entanto, qual é o limite entre o uso moderado e inteligente daquele que pode ser prejudicial à saúde?

O CNN Sinais Vitais desta semana faz um mergulho no universo digital com o objetivo de responder a esta pergunta. Especialistas apontam que o uso em excesso das ferramentas pode ser nocivo principalmente para crianças e adolescentes.

A reprise do programa apresentado pelo cardiologista Roberto Kalil apresentada neste domingo (24) reforça o conteúdo diversificado com a marca CNN Soft.

Roberto Kalil entrevista o médico Rodrigo Machado, psiquiatra e especialista em danos ao cérebro causados pelo uso excessivo das tecnologias digitais e o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“Na primeira infância, um estudo mostra que, no Brasil, entre 4 e 5 anos, 89% das crianças são expostas excessivamente às telas”, diz Machado. “Quando nós inclinamos a cabeça para frente, o peso que seria sustentado por cinco quilos passa a pesar 27 quilos. Quando eu inclino a cabeça para frente, crio uma pressão na cervical e nos ombros equivalente a carregar uma criança de oito anos de idade de cavalinho”, complementa Nabuco.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo recomendado de uso diário de telas varia de acordo com a idade, sendo restrita a utilização por crianças menores de dois anos (veja quadro abaixo).

Arte/CNN

No episódio, a médica Evelyn Eisenstein, coordenadora da rede “Esse mundo digital” e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, fala sobre o prejuízo de desenvolvimento da fala e da linguagem nas crianças menores de 3 anos que têm acesso às tecnologias digitais.

“Nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, mais crianças entraram no mundo digital. Até 98% dos adolescentes do Brasil acessam smartphones ou notebooks”, diz.

O neurocientista e pesquisador francês especializado em neurociência cognitiva, Michel Desmurget, autor do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, alerta sobre o uso das tecnologias por crianças e adolescentes.

“O cérebro da criança é feito para processar interações humanas, não para processar telas ou qualquer outra coisa”. E, embasado em pesquisas, ele vai além: “Essa vai ser a primeira geração que o QI será mais baixo que a geração anterior”, alerta.

Morgana Secco, mãe da bebê Alice, que ficou conhecida mundialmente por conseguir falar palavras difíceis com tão pouca idade, conta que a filha nunca teve contato com telas de computadores ou celulares, aprendendo apenas com interações humanas.

Anna Lucia Spear King, coordenadora do laboratório Delete Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica o porquê de muitas crianças e adolescentes gastarem tanto tempo jogando online.

“O uso de jogos libera no cérebro dopamina, serotonina, endorfina, substâncias químicas que nos dão muito prazer e o cérebro aprende rápido, por isso as pessoas se viciam. É a mesma linha do álcool e da droga, que liberam as mesmas coisas, o mesmo processo de recompensa no cérebro”, afirma.

O gaúcho Brayan Loss, 30, profissional da área de informática, chegava a passar 18 horas por dia conectado. Isolado, sem contato com outras pessoas, desenvolveu gastrite porque passou a tomar muita cafeína para aguentar a maratona. Isolado em um mundo paralelo, ele precisou buscar ajuda especializada.

Alunos de diferentes idades de uma escola de São Paulo foram convidados pelo programa para participar de uma roda de conversa sobre o uso de dispositivos digitais. Todos contaram que batalharam bastante para ganhar um celular próprio dos pais.

“Esse autocontrole depende muito dos pais e da escola, o livro te traz um espaço muito grande para fantasia, criatividade, raciocínio. Na ferramenta digital, as coisas acontecem em uma velocidade que você fica escravo dela”, diz o médico Roberto Lent, professor emérito da UFRJ e pesquisador do Instituto D’or de Pesquisa e Ensino.

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