Comunicação não-violenta ou CNV é uma abordagem específica de comunicação. Ela se baseia em habilidades de linguagem que fortalecem nossa capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas.

Segundo Marshall Rosemberg, autor do livro Non-violent Comunication, a CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros.

Comunicação não-violenta significa compreender como a forma que você se comunica pode afetar outra pessoa e trabalhar para melhorá-la. Você já parou para pensar em como você fala com sua família, amigos, colegas de trabalho, e desconhecidos? 

Dependendo da situação é comum mudarmos a fala. Em um churrasco com a família, somos mais casuais. Usamos gírias e damos mais risada, pois nos sentimos confortáveis em meio a pessoas que amamos e conhecemos bem. Já em um evento de trabalho, mantemos uma postura mais séria e procuramos enriquecer o nosso vocabulário. 

O problema reside quando as palavras e tonalidades usadas causam sofrimento ou desconforto ao próximo, transformando situações simples em catastróficas. Para ser efetiva, a comunicação verbal precisa conter um misto de clareza, assertividade e gentileza. 

O que é comunicação não-violenta?

É uma abordagem voltada para ressignificar a fala, tornando-a mais branda e empática. A comunicação isenta de violência propõe a reflexão sobre a maneira como nos comunicamos, incluindo com pessoas “que o santo não bate”, um grupo que geralmente não nos esforçamos para agradar. 

De acordo com o Centro para Comunicação Não-Violenta, organização não governamental internacional que promove a abordagem, esta nasce do estado de compaixão quando não há violência no coração. Em outras palavras, quando estamos bem conosco e não carregamos mágoas ou ressentimentos, somos capazes de transmitir apenas coisas boas ao mundo. 

Esta premissa tem como base o pensamento de que todos têm certo grau de compaixão, mas, à medida que as pessoas interagem e aprendem sobre o mundo, desenvolvem mecanismos de defesa apoiados na violência para sobreviver. Desse modo, a compaixão é momentaneamente esquecida. Esse momento, porém, pode durar meses ou anos. 

Para aprendermos a nos comunicar saudavelmente com as pessoas ao nosso redor, precisamos, compreender a origem de vivermos “armados”.  Só então será possível fazer a substituição desta forma negativa de diálogo por uma positiva. 

Por que praticar a comunicação não-violenta?

Hoje, existem muitas discussões sobre o que pode ou não ser dito. Muitas pessoas ficam irritadas com a ideia de uma possível censura porque acreditam que a crítica é referente à personalidade, ao eu interior. Já outras culpam os ouvintes por serem sensíveis demais ou terem interpretado mal. 

Essa reflexão, no entanto, se faz necessária simplesmente porque a comunicação afeta todos os aspectos de nossa vida. É impossível viver completamente sozinho e não receber ajuda ou oportunidades de terceiros para crescer, seja pessoal ou profissionalmente. Dependemos das pessoas para a nossa sobrevivência.

Então, por que a forma como nos comunicamos não pode ser cordial, educada, divertida e empática o tempo todo? 

Muitas situações ruins podem ser evitadas apenas com um esforço mínimo na comunicação. Por vezes, ofendemos alguém querido e colocamos em risco um belo laço de amizade apenas por nos expressarmos inadequadamente.  

Quando nos expressamos com coesão e leveza, conquistamos a admiração, o respeito e a confiança de todos a nossa volta. Dessa forma:

  • Os relacionamentos interpessoais (família, amigos) melhoram;
  • As pessoas desejam ficar mais perto;
  • O ambiente corporativo se torna mais agradável;
  • Os colegas tem mais disposição para ajudar e facilitar processos no trabalho;
  • Conexões profissionais são firmadas sem estresse.

Modificando velhos padrões

As pessoas repetem os padrões de comportamento aprendidos em casa. Se em núcleo familiar é comum falar de maneira grosseira, insultar e debochar dos demais, a criança aprende esse comportamento e o replica. A lógica é a mesma quando o ambiente é caloroso e repleto de palavras gentis. 

A comunicação não-violenta não é ensinada à nós. Raramente temos consciência da forma desatenta que nos comunicamos com os demais. Talvez você ouça muitos comentários sobre sua frieza ou grosseria, e não saiba por quê. 

É claro que há casos de pessoas que escolhem ser desrespeitosas por uma centena de motivos, como, por exemplo, mascarar inseguranças ou arrogância. O foco deste artigo, no entanto, é você que deseja mudar padrões negativos e melhorar a sua forma de comunicação. 

O autoconhecimento é essencial nesse processo para guiá-lo até os pontos que precisam ser modificados. Para isso, você precisa estar aberto a ouvir os pensamentos, críticas e sugestões dos que te querem bem. 

Acima de tudo, deve estar preparado para reconectar-se com a compaixão adormecida em seu interior. 

Ser compassivo não é o mesmo que aceitar desaforos. É saber prevenir esse tipo de situação, sendo sincero e empático, e responder à altura a circunstâncias que causam tristeza, frustração ou raiva. 

Outro obstáculo que impede as pessoas interessadas nesta abordagem de seguir adiante é o pensamento de “para que mudar se todos vão continuar iguais?”.. Pessoas estressadas com seus empregos, por exemplo, não sentem vontade de sorrir e ser gentil com as pessoas que colaboram para o ambiente ruim.

Não se preocupe com o comportamento alheio. O importante é que você estará fazendo a diferença ao mudar a sua atitude. 

O passo-a-passo para aplicar a comunicação não-violenta

Talvez o campeão de reclamações de comunicação violenta e agressão verbal seja o local de trabalho. Chefes egocêntricos, colegas individualistas e clientes exigentes. São dezenas de interações sociais por dia e, compreensivelmente, o estresse surge quando essas são negativas.

Similarmente, o ambiente familiar pode ser causador de grandes conflitos se não soubermos lidar com as críticas e palpites dos parentes. Mas não podemos nos esquecer dos vizinhos, dos conhecidos de vista, dos amigos de amigos. 

Em suma, em qualquer situação social pode haver desentendimentos. Não podemos nos afastar de tudo e todos, então, cabe a nós exercitar a comunicação não-violenta para nos relacionarmos bem com todos.     

Compreensão da situação

Não podemos controlar as ações dos outros, mas podemos mudar a nossa reação à elas. Em vez de gritar e brigar junto quando encontrar-se em um impasse, separe a realidade dos julgamentos pessoais. 

Por que esta pessoa está se comportando assim? É um ataque pessoal? É provável que não. Respire fundo e não se deixe abalar. Analise o corrido pelo o que, de fato, ele é e não através das lentes de suas emoções. 

Se não tiver esse conhecimento por completo, junte os pedaços do que você conseguiu captar no ar e crie uma suposição apenas para você. “Meu chefe é um idiota!” consequentemente se transforma em “Meu chefe está tendo um dia ruim porque aquela situação X está muito desagradável. Ele está sobrecarregado, e não consegue atender todos os seus compromissos da forma como gostaria. Quando ele foi grosseiro comigo, fiquei frustrado porque não tenho culpa da agenda dele estar lotada”. 

Esta justificativa combate os julgamentos e a vontade de insultar a pessoa e também deixa claro qual é o nosso papel nesta situação. Obtemos inteligência emocional a partir do momento que paramos de nos ressentir pela atitude do outro, especialmente quando não tem nada a ver conosco. 

Domínio das emoções 

Com o domínio das emoções, fica fácil encontrar respostas e soluções para reverter o conflito. Se você se deixar levar pela raiva, pode acabar falando o que não deve. Dominar as nossas reações no calor do momento é um dos principais benefícios de praticar a comunicação não-violenta.

Após compreender a natureza do conflito, foque em suas emoções. Dê nome a cada uma delas, sem deixar nada escapar. Como você se sentiu? Não leve em consideração a atitude da outra pessoa. Pense apenas no seu sentimento. Falar “estou chateado” é diferente de “você fez algo que me chateou”. 

Expressar a primeira frase é mais fácil do que a segunda e garante uma reação mais compreensiva já que não há ataque pessoal. Assim sendo, você conseguirá compreender o que sente de forma mais racional e saberá exatamente quando e como iniciar uma conversa.  

Identificação das necessidades

O diálogo acontece porque necessitamos de algo, seja informação, entretenimento, sanar a curiosidade, comunicar um erro ou pedir ajuda. Assim que você estiver certo dos seus sentimentos, o próximo passo é analisar a necessidade presente neles. Esta foi cumprida ou não? O que você necessita para que seja? 

Quando for explicar porque ficou chateado, substitua o “estou chateado porque você foi grosseiro” por “estou chateado porque gostaria de ser ouvido”. O desejo de ter essa necessidade atendida é expressado sutilmente.  A chave aqui é ser um pouco egoísta e focar no que você precisa. 

“Estou triste porque você gritou comigo” se torna “estou triste porque gostaria de ter uma conversa tranquila sobre determinado assunto” ou “estou triste porque gostaria de ser compreendido”. 

Pedido sincero

Seja sincero consigo mesmo para conseguir ser sincero com os outros. Não esconda seus sentimentos para fazer joguinhos. Quando fizer pedidos, faça com a intenção de melhorar a sua situação e da outra pessoa. Diga “Eu quero que o nosso relacionamento seja mais sincero porque me sinto perdido/a quando não obtenho respostas concretas”. 

 Dica bônus: tenha empatia

A empatia é o fundamento desta abordagem comunicativa. Ela ajuda combater os julgamentos equivocados. Embora cada pessoa seja diferente, passamos por experiências semelhantes. No fundo, almejamos a mesma coisa (felicidade e paz) só que em formatos diferentes. 

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