A pandemia do COVID-19 deixou 6.6 milhões de mortes no mundo, além de inúmeras pessoas trancadas em casa, restringindo sua interação social com outras pessoas – parte fundamental para manter a saúde mental – levando a maior ansiedade, solidão e estresse.

A prevalência global de ansiedade e depressão aumentou exponencialmente desde o início da pandemia. A pandemia desencadeou um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo, segundo um relatório da OMS divulgado em março deste ano.

Pontos importantes observados com a pandemia foram:

O estresse relacionado com o Trabalho

Estresse e ansiedade relacionados ao local de trabalho não são fenômenos novos. Muitos funcionários relatam que seus empregos são uma importante fonte de estresse e ansiedade que, se não forem controlados, podem facilmente chegar ao nível de um transtorno de ansiedade com consequências negativas para a saúde física, bem-estar mental e produtividade no local de trabalho e oportunidades de carreira. A pandemia do COVID-19 exacerbou o que já era um problema de saúde mental generalizado e amplamente não abordado no local de trabalho. Isso aumentou acentuadamente a prescrição de antidepressivos e medicamentos de combate a ansiedade, muitos dos quais estão associados a efeitos colaterais significativos e preocupações de segurança, incluindo risco de uso indevido, uso excessivo, dependência e até morte. Abordar o estresse e a ansiedade no local de trabalho durante e pós pandemia de COVID-19 e além requer novas abordagens para o suporte à saúde mental/emocional e um padrão de atendimento fundamentalmente diferente em comparação com as alternativas atuais de medicamentos para transtornos de ansiedade e depressão.

Aumento do consumo de álcool e drogas

O uso de substâncias e as mortes por overdose de drogas aumentaram muito durante a pandemia de COVID-19, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. 

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Estados Unidos, informou que aproximadamente 75% das mortes por overdose durante o primeiro ano da pandemia estavam ligadas a opioides sintéticos, como o fentanil. Também houve um aumento no abuso de muitas outras drogas desde o início da pandemia em 2020, incluindo heroína, metanfetaminas e cocaína.

No Brasil não foi diferente, uma pesquisa feita pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 33 países e dois territórios das Américas apontou que 42% dos entrevistados no Brasil relataram alto consumo de álcool durante a pandemia de COVID-19. 

A pesquisa mostrou que houve maior prevalência entre os jovens do beber pesado episódico – ou seja, consumir mais de 60 gramas de álcool puro (cerca de cinco bebidas alcoólicas padrão) em pelo menos uma ocasião durante os últimos 30 dias. O crescimento na frequência do consumo de bebidas alcóolicas foi mais prevalente entre pessoas de rendas mais altas. A presença de quadros graves de ansiedade aumentou em 73% a chance de maior frequência no consumo.

Aumento do número de suicídio

As taxas de suicídio entre os jovens permaneceram elevadas em relação aos níveis pré-pandêmicos. As razões para o aumento das taxas de suicídio durante a pandemia provavelmente são multifatoriais, mas as taxas de suicídios atribuídas a problemas de saúde mental aumentaram particularmente com a pandemia. Os problemas de saúde mental podem ter sido exacerbados devido ao estresse cumulativo e à diminuição do acesso aos serviços de saúde mental, provavelmente decorrentes da cronicidade da pandemia. Essas descobertas ressaltam a importância de fornecer suporte contínuo à saúde mental para jovens com necessidades de saúde mental no cenário pandêmico.

Outras questãos de saúde mental

Outro aumento acentuado notado nos problemas de saúde mental, foram os transtornos obsessivo-compulsivos, transtornos traumáticos e relacionados ao estresse, ansiedade e transtorno de ansiedade social,  bem como bem como problemas interpessoais e vício em internet entre crianças e adolescentes que enfrentam múltiplas personalidades e problemas comportamentais.

Lições de vida do confinamento

A pandemia também deu às pessoas uma compreensão mais clara de como, em termos práticos, cuidar de sua própria saúde mental. A vida cotidiana de todos se beneficia da estrutura, de um mínimo de distrações indutoras de ansiedade e de um senso de controle pessoal – todas as coisas que podemos trabalhar para manter no mundo pós-COVID.

Os isolamentos também ensinaram empresas de todo o mundo a adotar práticas de trabalho mais flexíveis, liberando seus funcionários para alcançar um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal mais saudável, com mais tempo gasto em casa e menos problemas com o deslocamento diário.

Mas talvez o maior ponto positivo de todos seja a maneira como a pandemia alertou o mundo sobre os problemas comuns de saúde mental que estavam surgindo antes mesmo do surgimento do vírus. Com o tempo, a pandemia pode até ser vista como um alerta oportuno que ajudou a reduzir o estigma em torno da doença mental ao trazê-la à tona.

A saúde mental agora ocupa o segundo lugar entre as preocupações globais com a saúde, ultrapassando o câncer, segundo um novo relatório da empresa de pesquisa de mercado Ipsos.

Embora essa estatística seja preocupante, ela também aponta para o fato de que a conscientização sobre saúde mental melhorou. O relatório da Ipsos também descobriu que três em cada quatro globalmente acreditam que a saúde mental e física são igualmente importantes.

Observa-se uma pequena diferença no estigma, mas não em um nível satisfatório. Embora haja um aumento no número de pessoas que procuram ajuda, independentemente do status socioeconômico e da formação educacional, as pessoas ainda interpretam a saúde mental como um aspecto autoinduzido ou automoldável da vida.

Embora a conscientização tenha aumentado, alguns especialistas em saúde mental acreditam que ainda existe um estigma associado aos problemas de saúde mental em vários países do mundo. Algumas pessoas preferem sofrer sozinhas para evitar esse estigma. Portanto, as organizações de saúde e as partes interessadas em todo o mundo precisam fazer mais esforços para facilitar a disponibilidade e garantir a confidencialidade dos serviços de saúde mental.

Agora, mais do que nunca, devemos investir em saúde mental e apoio psicossocial para todos – comunidades e cuidadores – para ajudar as pessoas a lidar, reconstruir suas vive e prospera através desta crise.

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