Você já deve ter percebido que existem diferentes tipos de síndromes e desordens emocionais. Muitas impactam o físico, sendo que uma delas é o transtorno de escoriação. Pouco diagnosticado, esse distúrbio é facilmente identificado — o que parece ser uma incoerência.

Isso acontece porque, muitas vezes, acredita-se que o comportamento adotado é derivado apenas de uma situação de estresse. No entanto, esse transtorno está presente em 1,4% da população adulta, conforme a literatura médica.

Além disso, ele pode vir associado a outros distúrbios, como o Dr. Rodrigo Ribeiro Rocha, psiquiatra do Hospital Santa Mônica apresenta neste post. Afinal, vamos tratar do transtorno de escoriação a partir de agora. Saiba mais.

O que é o transtorno de escoriação?

O transtorno de escoriação — também conhecido como dermatilomania ou skin-picking — é uma condição mental caracterizada por comportamentos impulsivos e repetitivos que causam lesões na própria pele. Esse ato é diagnosticado como patológico quando é recorrente.

Normalmente, a pessoa com esse distúrbio causa lesões na pele ao beliscar, espremer, arranhar, coçar e cutucar a pele. Isso acontece tanto no tecido saudável quanto em irregularidades existentes, como espinhas, manchas, marcas de feridas e pequenas calosidades.

Portanto, é importante deixar claro que as escoriações não são derivadas de preocupações com a saúde ou estéticas. Inclusive, alguns indivíduos fazem isso de forma automática, isto é, sem plena consciência.

Como você pode perceber, essas atitudes são adotadas por muitas pessoas. Ou seja, é normal acreditar que esse é um mau hábito. Por isso, é importante fazer uma boa avaliação para conseguir o diagnóstico correto.

Quais são as causas do transtorno de escoriação?

Vários fatores podem causar esse problema. Geralmente, ele aparece em pessoas com ansiedade — essa é uma característica comum. Isso porque as escoriações servem como forma de aliviar a tensão. Além disso, a existência de condições sociais e psicológicas pode aumentar a chance de desenvolver esse distúrbio.

No entanto, o transtorno da escoriação também é associado a disfunções neuroquímicas. Elas causam efeitos que consistem em reações sintomáticas de ansiedade. Por exemplo, em adolescentes, isso pode ocorrer devido a alterações hormonais.

Modificações neurológicas e psicológicas também contribuem para o desenvolvimento da doença. Outras possíveis causas são depressão, baixa autoestima e transtorno obsessivo-compulsivo.

Como os sintomas se manifestam?

Normalmente, a escoriação da pele nesse transtorno é uma atitude crônica. No entanto, os sintomas oscilam, caso o distúrbio não seja tratado. O local das lesões muda com o tempo e os padrões variam de acordo com o paciente. Portanto, enquanto alguns centralizam os machucados em um local específico, outros têm múltiplas áreas de cicatrização.

Portanto, o principal sintoma está relacionado a esse aspecto físico, caracterizado pelas lesões e manchas na pele. Com isso, muitos indivíduos tendem a camuflá-las com maquiagem ou roupas.

Além do mais, o procedimento de machucar a pele costuma vir acompanhado de rituais ou comportamentos específicos. Por exemplo, algumas pessoas procuram determinado tipo de crosta para arrancar. Outros optam por fazer de uma forma predeterminada, sempre do mesmo jeito. Ainda há aqueles que mordem e/ou engolem a casquinha retirada.

Com o tempo, a tendência é que essas pessoas evitem situações sociais por se sentirem envergonhadas ou constrangidas com as lesões e/ou sua incapacidade de controlar o comportamento. Isso tende a gerar problemas na área profissional, acadêmica etc.

Em casos extremos, é possível que o paciente arranque a pele de outras pessoas. Outros adotam mais comportamentos repetitivos, como a onicofagia (hábito de roer as unhas) e a tricotilomania (hábito de arrancar pelos ou cabelo).

Em pacientes graves, o transtorno de escoriação pode causar outros problemas. Por exemplo:

  • cicatrizes;
  • infecções;
  • sangramentos importantes;
  • sepse (infecção generalizada).

O distúrbio pode ser acompanhado de outros transtornos de saúde mental. Dois deles são o obsessivo-compulsivo (TOC) e o depressivo maior.

Como é o tratamento para o transtorno de escoriação?

O primeiro passo para começar um tratamento é ter o diagnóstico correto. Ele deve ser feito por médico psiquiatra, que identificará se o comportamento realmente caracteriza um distúrbio. Isso porque o paciente não tem a intenção de se ferir, diferente do que acontece em uma situação de problema emocional.

Assim, existe a tentativa de controlar o hábito, mas há dificuldade em controlar o impulso. Com isso, vários prejuízos à vida pessoal e profissional são identificados. O psiquiatra também deve identificar se as manifestações equivalem aos critérios diagnósticos do DSM-IV, um sistema de classificação de transtornos mentais.

De acordo com ele, existem alguns critérios a serem observados. Os principais são:

  • ato de beliscar a pele de forma repetitiva, ao ponto de gerar lesões;
  • tentativa de reduzir ou interromper as ações autolesivas;
  • existência de prejuízo em alguma área da vida devido ao problema;
  • comportamento autolesivo que não é provocado por demais distúrbios psíquicos, por exemplo, estereotipias ou alucinações táteis. Além disso, não existe intenção de se machucar;
  • comportamento autolesivo que não foi gerado pelo uso de substâncias químicas nem por outras condições clínicas.

A partir da observação desses detalhes, o médico sinalizará se o transtorno de escoriação realmente está presente. Com esse diagnóstico, é possível definir a abordagem mais adequada. Normalmente, há combinação de medicações a estratégias comportamentais.

Os fármacos servem para tratar a parte neuroquímica da doença. Eles podem fazer parte da classe de antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos. Por sua vez, a psicoterapia é fundamental para o paciente aprender a lidar com suas emoções e a controlar seus impulsos.

Assim, é necessário ter uma abordagem multidisciplinar. Em muitos casos, também é necessário contar com um dermatologista para tratar as lesões da pele. Esse profissional poderá cuidar dos danos ao tecido cutâneo e ainda identificar outras condições dermatológicas que agravem o problema.

Papel da família

O mais comum é que os familiares demorem para perceber a existência do transtorno da escoriação. Isso porque as lesões não são causadas na frente de outras pessoas, na maior parte dos casos.

Nesse cenário, o papel da família é fundamental no tratamento. Além de encaminhar o paciente, é preciso entender que esse é um distúrbio difícil de controlar sem ajuda. Portanto, é importante ter uma postura de acolhimento.

A partir do momento em que esses atos começam a afetar a vida do indivíduo, sua família também é impactada. Com isso, as pessoas próximas também precisam de apoio emocional. Isso pode ser conseguido em uma instituição de saúde especializada.

Assim, é possível saber quais comportamentos são mais adequados à família para evitar o agravamento do problema. Além disso, todos recebem esse cuidado diferenciado, o que contribui para o sucesso do tratamento.

O mais importante é entender que o transtorno de escoriação é um distúrbio que pode ser tratado e controlado. A pessoa consegue ter uma vida normal e melhorar suas relações sociais. Portanto, procurar ajuda é imprescindível para voltar a sentir bem-estar.

Agora que você tem essas informações, que tal ajudar outras pessoas mostrando como funciona esse distúrbio? Então, compartilhe este post nas suas redes sociais. 

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